POLÍTICOS E EMPRESÁRIOS ACREDITAM EM LOBBY CONTRA A MANUTENÇÃO DA BR-319

05/11/2015 06:33

 

 

Manaus - Políticos e representantes de setores empresariais do Amazonas acreditam haver um lobby contra a manutenção da BR-319 e afirmam que empresas de transporte hidroviário são contrárias à rodovia por não querer perder mercado.

Entende-se por lobby a atividade de pressão de um grupo organizado sobre políticos e poderes públicos, que visa influenciar decisões, em favor de determinados interesses privados.

O vice-presidente da Federação de Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado do Amazonas (Fecomércio-AM), Aderson Frota, afirmou que o lobby existe nos setores que acreditam que podem perder mercado com a estrada. “Eu acho que pode haver algum lobby, mas os lobbys têm que se quebrar diante do interesse coletivo, que é muito melhor. Nós podemos baratear as mercadorias e podemos fazer um grande acréscimo de qualidade de vida nas populações, criar uma interligação para a classe turística”, disse.

Sobre a disputa de transporte de produtos para atender à demanda local, Frota afirmou que há mercado para todos os tipos de transporte. “Ninguém vai perder muita coisa, eu acredito que os balseiros podem ter alguma preocupação, porque vão perder alguma percentagem, mas o negócio não vai refluir, o negócio funciona muito bem porque tem muita carga. Talvez não neste momento de crise em que as cargas tenham diminuído bastante, mas tem muita carga para o trajeto, seja via rodoviária, marítima ou aérea”,opinou.

O presidente da Câmara dos Dirigentes Lojistas de Manaus (CDLM) Ralph Assayag também falou sobre a possível existência de um lobby contra a rodovia federal. “Eu não tenho como provar, mas só pode ser isto. É um absurdo a gente não ter oportunidade de dizer ‘eu quero ir de carro’, ‘quero ir de trem’ ou ‘quero ir de barco’. Eu acho que está ocorrendo, mas eu não tenho como provar. É um lobby de alguém, porque tem algo errado, não é possível. Todo mundo está vendo que já existe a estrada, quem quiser chegar lá e cortar madeira já entra na estrada e nem vai precisar de asfalto”, disse.

De acordo com Assayag, a vazante dos rios na região podem causar o desabastecimento de mercadorias. “Se o rio secar mais um pouco da forma que está secando, os barcos não vão passar ou vão trabalhar com a metade das cargas. As balsas, em vez de transportar ‘x’ de mercadorias, vão transportar metade deste ‘x’ e vão fazer o frete pagando a mesma coisa. Os produtos vão ficar mais caros e, se secar mais ainda, e não ter como chegar álcool na cidade, não vai ter como vender gasolina. Nós tínhamos que ter uma opção B, e a opção B é a estrada”, afirmou.

Mais taxativo em seu comentário, o deputado estadual Francisco Souza (PSC) afirmou que as empresas de transporte hidroviários fazem um lobby contra a construção da rodovia. Sem citar quais seriam as empresas, o parlamentar disse que o transporte de hidroviários mantém o monopólio do transporte de cargas há mais de 40 anos na região.

“Estas empresas querem continuar o monopólio do transporte, por isto, a BR-319 não sai. Eles (empresários) temem que afete a navegação. Aqui no Amazonas, temos empresários forte, mas, fora do Estado, há empresas que formam um cartel, formado até por multinacionais, trabalhando para evitar o nosso progresso. Tudo é possível no Nordeste, no Sul, mas, para o Amazonas, não pode”, disse.

De acordo com o deputado, o cartel é formado por empresas que fazem o transporte hidroviário para as cidades de Porto Velho, capital de Rondônia, e Belém, capital do Pará. “Mas é um equívoco deles porque vão com tanta sede para manter este monopólio. A BR-319 não vai prejudicar o transporte de cargas pesadas. Este tipo de carga tem que continuar com eles, porque é mais barato, mais seguro, só é mais demorado. O problema é que estas empresas querem tudo para elas”, afirmou.

O economista Francisco Mourão Júnior disse que surgem “forças ocultas” toda vez que se tenta fazer a manutenção da BR-319. “O que a gente pode dizer que é o problema todo da rodovia é uma questão ambiental. Só que a gente não pode ser penalizado por uma questão ambiental”, disse. O economista nega que a rodovia iria afetar o setor de transporte hidroviário.

O senador Omar Aziz (PSD) afirmou não acreditar em pressão das empresas de transporte hidroviário contra a manutenção da rodovia. “O tipo de mercadoria que as balsas transportam são grãos, combustíveis, coisas que não dá para levar por estrada. Economicamente é inviável. O mais importante é que esta estrada seria a grande integração nacional, por ser a única que integraria nós (o Amazonas) e Roraima à grande nação brasileira”.

A superintendente da Zona Franca de Manaus, Rebecca Garcia, disse que não pode afirmar se o transporte fluvial é beneficiado pela não manutenção da estrada. “Eu precisaria ter números para falar se impacta, ou não, este setor. Eu não sei até que ponto este setor seria atingido, mas, o que se comenta, é que a manutenção da estrada reduziria o transporte fluvial”, afirmou.

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